A exigência de planos de reciclagem pelo governo abrirá um nicho de negócios, ainda embrionário no país, e diversificará as receitas das companhias logísticas. A afirmação é da diretora comercial da JSL, Irecê Andrade, que vê na "logística reversa" - a responsabilidade compartilhada entre fabricante, importador, comerciante e consumidor final pelo tratamento dos produtos descartados - uma forma de operação estratégica para o futuro do setor.
"Não vejo nenhuma possibilidade de [a logística reversa] não ser uma obrigatoriedade", disse Irecê. O diretor executivo da Wilson, Sons Logística, Thomas Rittscher, ressalta que a empresa já atua com logística reversa e tem entre seus clientes o laboratório Merck.
"Vemos a pressão do governo em cima da indústria pela logística reversa. Não há dúvidas de que essa pressão vai aumentar", avaliou Rittscher. "Fazemos a distribuição de medicamentos, que têm prazo de validade, no Brasil inteiro. Temos uma gestão de devolução de medicamento, então tem uma parte de logística reversa embutida dentro desse processo", disse o diretor, admitindo que a logística reversa, atualmente, não faz parte dos planos de especialização da empresa.
Segundo a diretora da JSL, a empresa presta alguns serviços desse tipo, mas não em grande escala. Mesmo assim, o volume desse tipo de demanda ainda não fez com que a empresa a criasse um setor voltado para a logística reserva. Se a JSL quisesse hoje ampliar suas operações com planos voltados para a reciclagem, a empresa levaria, no máximo, cinco anos para poder instalar completamente o novo sistema, afirmou a diretora.
"A ideia é ter [no futuro] uma estrutura que possa atender à demanda do mercado." A respeito dos custos das operações sustentáveis, na opinião de Irecê, o setor produtivo possivelmente repassará aos consumidores o encarecimento. Ou seja, o produto final chegará com reajustes. Ela avalia que as mudanças resultarão em uma nova ordenação nas vendas de bens de consumo.
"O consumidor deverá levar o produto já sabendo o tempo de vida útil do que está sendo adquirido e em quanto tempo o artigo comprado retornará à empresa vendedora ou fabricante", projetou Irecê. Uma das dificuldades que o setor vem enfrentando é a desinformação em relação às diferenças de regulamentação entre as esferas governamentais.
Enquanto setores dialogam com o governo federal colocar em prática a política nacional de coleta e reciclagem de resíduos sólidos, o Ministério Público de alguns Estados e secretarias de meio ambiente estaduais e municipais têm intimado diversas empresas a apresentar seus planos de logística reversa.
"Em tudo o que é novo, há dúvidas sobre se na prática funcionará e como. O setor logístico vai passar por isso por algum tempo até entender melhor e fazer da maneira certa", disse a diretora. "Você já vê no exterior o crescimento da logística reversa. No Brasil, se fala nisso há pouco tempo", complementou.
Fonte:
iG Economia