Se alguém me perguntasse se acredito em milagres, diria que sim. E se insistissem se já vi algum, eu confirmaria imediatamente e perguntaria em seguida: mas você nunca percebeu a importância da decomposição? É um dos milagres da natureza que acontece sem parar, dia e noite, há milhões de anos! Imagine um mundo sem decompositores! Seriam milhões e milhões de cadáveres intactos de plantas, de bichos, de pessoas e de lixo. Como circular em meio a tanta matéria abandonada? E nós falamos mal dos fungos e das bactérias! No entanto, sem eles – os micróbios – nossa vida seria inviável! Mesmo hoje, quando “vomitamos” toneladas e toneladas de resíduos, pelo mundo e pelos oceanos, eles estão lá – trabalhando silenciosamente – e transformando nossas irresponsabilidades e desatenções, em nutrientes e água para fazer brotar a vida.
A natureza pratica a logística reversa há milhões de anos e só agora é que nos “descobrimos” este truque mágico. Num momento em que as leis do país nos obrigam a refletir sobre essas nuances (Lei 12.205/2010) e que temos uma Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) em evolução, é razoável que nos transformemos também em semideuses, estimulando milagres e ações para não acumular mais “cadáveres” não decompostos pelo mundo. São “carcaças” de carros, de equipamentos eletro-eletrônicos, roupas velhas, e o infernal plástico não degradável – o próprio capeta – a nos atentar em meio à natureza, divina e sagrada. Vamos ter que aprender a adorar e a proteger os microorganismos do solo e das águas, porque eles serão os verdadeiros “mediadores” das fortunas de bilhões de dólares que serão geradas pelas empresas de reciclagem e de reaproveitamento. Vamos ter que proteger essas criaturinhas “lucrativas” evitando que morram com tantos agrotóxicos e drogas químicas perigosas dissolvidas nos mares e nos rios, mortalmente flutuantes pelo ar, ou ainda nas entranhas da terra, a maioria invisível, mas altamente letal. Aprender a usar materiais que a natureza possa “comer” com satisfação, nos ajudando a diferir tudo que para nós for “intragável”.
Copos de fibra de milho, de aipim, placas de fibras de bananeiras, pó de coco, e tantos outros petiscos e inovações poderão nos mostrar um novo caminho; não puramente ecológico, mas equilibradamente econômico. Cerca de três quartos dos resíduos do mundo ainda permanecem com o rótulo de “resíduos”, deixados por aí, mal acomodados em lixões e a céu aberto. Precisamos mudar nossos hábitos, por motivos legais, sociais, econômicos e ecológicos. Vamos formar um séquito de anjos determinados, ajudando os deuses a mudar o mundo, mas não para sujá-lo e contaminá-lo com as nossas loucuras de produzir sem limites e sem reflexões. Eu acredito em milagres! Não é mais uma questão somente de crença: é uma necessidade urgente e inadiável! E você? Já acendeu sua vela biodegradável hoje?
Fonte: O Jornal Web