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O que é mais sustentável? Produtos feitos para durar ou os que acabam rápido?
27/05/2013
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Não faz muito tempo, talvez uma década, que expressões como obsolescência programada e logística reversa começaram a fazer parte do dia a dia de pessoas que estudam e trabalham com sustentabilidade.  Fabricar produtos com tempo certo para durar – e assim obrigar o cidadão a comprar outros – ou ter responsabilidade com os produtos além da porta de fábrica são noções que sempre estiveram aí, mas que só de uns tempos para cá a gente começou a se dar conta delas. E, afinal, se já temos a certeza de que os recursos naturais são finitos e que a concentração de carbono na atmosfera está batendo recorde, como se pode ver no blog do André Trigueiro,  esses dois assuntos devem estar na agenda também.
 
No jornal “Valor Econômico” de hoje há a notícia de que a cidade de São José dos Campos, em São Paulo, foi escolhida pela Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos (Abree) para abrigar o programa piloto de logística reversa para computadores, celulares, geladeiras e fogões que o cidadão joga fora. Foi feita uma campanha, arrecadadas algumas toneladas,  e o engajamento da população foi considerado muito bom pelas autoridades municipais, já que a prefeitura entrou na parceria.
 
O comportamento dos moradores da cidade paulista, puxado por uma grande campanha que ainda não se sabe se terá sustentabilidade, dá conta de uma parte do problema. No entanto, há outras equações a serem feitas quando se fala sobre logística reversa. A primeira delas é bem primária.
 
Assim que se ouviram os primeiros acordes dizendo que uma gestão sustentável precisa reciclar objetos usados, uma nova função começou a brotar no mercado informal. Segundo o site lixo.com.br, de cada mil brasileiros, hoje, um é catador de tais resíduos. E esse povo precisa ser considerado no momento em que se faz campanhas e em que as próprias empresas criam seus métodos de colher os aparelhos. O que fazer com os catadores?
 
Outra coisa: quando se recicla produtos, não se emite carbono? Essa conta já foi feita?
 
Quando o lixo, ou o que ia ser jogado fora, vira um recurso, quer dizer também que, pelo menos potencialmente, há subprodutos que podem ser vendidos e compensar, assim, o sistema de reciclagem. E um novo mercado desse tipo de produto está crescendo. Mas, como chegamos a isso?
 
David Boyle e Andrew Simms  em seu “The new economics” (os leitores desse blog sabem que esse livro tem me inspirado bastante),  constatam que um século atrás três quartos do carbono emitido por uma casa vinham da cozinha e do aquecimento. E que uma década atrás nós ainda comprávamos biscoitos a granel. Hoje temos um vasto lixo doméstico sobretudo de comidas enlatadas ou empacotadas.  “Por que essa enorme mudança?”, perguntam-se eles.
 
São muitas respostas. Nosso estilo de vida mudou porque a tecnologia possibilitou que refrigerássemos os alimentos, e isso fez de nós colecionadores de lixo. A população mundial aumentou, o aquecimento da economia passou a ser visto como algo urgente, as empresas entenderam o recado e passaram a se equipar com tecnologia para encher o mercado de produtos novos, capazes de satisfazer os anseios da modernidade.  E a facilidade de se conseguir coisas novas fez de nós gastadores. Tudo junto e misturado. Para muitos, a ficha começou a cair: isso não pode dar certo.
 
 


O diretor da HP, Kami Saidi

 
Na Europa, desde fevereiro de 2003 existe o  Waste Electrical and Electronic Directive (WEEE), que funciona como uma espécie de imposto que obriga os fabricantes a reciclar seus produtos. Aqui no Brasil, a Lei dos Resíduos Sólidos foi sancionada em 2010 que obriga a “não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos”.
 
Rapidamente as empresas estão se equipando também com medidas para não sentirem no bolso essa obrigação. Já existem hoje desenhistas industriais especializados em criar produtos com foco na reciclagem. Ou em vistas a uma pegada de carbono mais baixa. Um exemplo disso foi dado pelo diretor de sustentabilidade da HP, Kami Saidi, durante o Congresso de Marcas Sustentáveis que aconteceu no Rio semana passada, como você pode ler aqui.
 
Segundo ele, a empresa hoje já faz impressoras com a metade do peso (há sete anos elas pesavam de cinco a sete quilos e hoje já pesam de três a cinco), que usam a metade da matéria-prima e garantem menos emissões. É o tipo de apelo que garante consumo, porque muita gente vai querer ter em casa um produto mais leve e mais eficiente energeticamente. E aí entramos na obsolescência programada.
 
— Não é questão de qualidade, é de adequação tecnológica. É possível que uma impressora trabalhe dez anos numa casa, sem dar defeito. Mas o consumidor tem um papel muito importante na hora de nortear o comportamento da indústria. Se ele quer produtos mais longevos, ele os terá. No Brasil estamos investindo em ter produtos que dure mais no mercado mas é uma coisa que fazemos com cautela. Porque nós não podemos fazer isso e tecnologicamente ficar para trás. Vc tem que fazer isso à medida que agrega valor sem desvantagem tecnológica. – disse Kami.
 
A questão é que o sistema econômico atual, do modo como ele se organizou, certamente iria sentir um baque se as empresas parassem de fabricar tanto e de pôr tantos produtos novos no mercado em pouco tempo. Por outro lado, aumentando os anos de uso de um produto, estaremos, pelo menos em parte, solucionando o problema do lixo, das emissões… Perguntei a Kami se a empresa dele já chegou a fazer essas contas:
 
— Sim, nós fizemos essa conta. Sua colocação é perfeita, há o impacto na cadeia dos dois lados. Todos esses produtos que têm 5, 7, 8 anos de vida fazem mais mal ao meio ambiente do que os produtos novos em termos de consumo de energia. A HP concluiu então que se nós trocássemos esses produtos por novos nós teríamos enorme economia de energia no futuro que compensaria todo o ciclo de reciclagem — disse ele.
 
O paradoxo está aí, pronto para ser enfrentado. Mas é também uma questão de cultura. E de interesse de cada cidadão. Como bem lembrou Kami, o brasileiro demonstra, em todas as pesquisas feitas sobre o assunto, que tem um comportamento muito paradoxal: ao mesmo tempo em que se preocupa com o meio ambiente ele  tem uma atitude passiva com relação aos cuidados , como reciclar lixo, comprar de forma consciente etc. Com certeza isso também tem uma explicação…
 
Crédito da foto: Amelia Gonzalez
Fonte: Amelia Gonzalez - G1 - http://goo.gl/ZYhSf

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